
O trilema da blockchain descreve o compromisso clássico na arquitetura de blockchain: é extremamente difícil atingir, em simultâneo, a descentralização, segurança e escalabilidade ideais. A melhoria de um destes aspetos tende a prejudicar outro ou a aumentar os custos.
Pode comparar-se ao sistema de trânsito e segurança de uma cidade. Quanto mais estradas e pontos de entrada existirem (representando a descentralização) e mais rigorosos forem os controlos (significando segurança), mais lento será o trânsito (indicando escalabilidade). Para acelerar a circulação, pode reduzir controlos ou centralizar a gestão, mas isso implica riscos em termos de segurança ou concentração de poder.
O trilema resulta da complexidade de coordenação em sistemas distribuídos e dos requisitos económicos para garantir segurança. Quanto mais nós independentes participam no consenso, maiores são os custos de comunicação e consenso, tornando as confirmações de transações mais lentas. Centralizar o controlo em menos nós acelera o processamento, mas fragiliza a resistência à censura e a resiliência contra ataques.
Por outro lado, a segurança da blockchain depende de tornar ataques economicamente inviáveis (por exemplo, exigindo enorme poder computacional ou ativos significativos em staking). Isso implica validações mais rigorosas e confirmações mais lentas. Assim, velocidade, descentralização e resistência a ataques estão em constante tensão, exigindo um equilíbrio estrutural que deve ser gerido.
O trilema manifesta-se de forma distinta em sistemas Proof of Work (PoW) e Proof of Stake (PoS). O PoW recorre ao poder computacional para garantir a segurança da cadeia, destacando-se em descentralização e segurança, mas com menor throughput, confirmações mais lentas e custos energéticos elevados. O PoS utiliza capital em staking e votação para alcançar consenso, aumentando a eficiência energética e o potencial de throughput, mas exigindo um desenho criterioso para evitar que a concentração de stake comprometa descentralização e segurança.
Por exemplo, o PoW tende a privilegiar o eixo “descentralização-segurança”; os protocolos PoS podem otimizar a “escalabilidade” através do design do protocolo, incorporando penalizações e aleatoriedade para manter a segurança.
O Bitcoin adota uma abordagem conservadora, privilegiando segurança e descentralização, com um tempo de bloco de cerca de 10 minutos (de acordo com fontes públicas) e throughput relativamente baixo. Por isso, recorrem-se a soluções de escalabilidade como a Lightning Network para transações mais rápidas.
A mainnet da Ethereum também privilegia segurança e descentralização, mas transfere a escalabilidade sobretudo para soluções Layer 2. Em 2024, dados públicos indicam que a mainnet da Ethereum processa apenas algumas dezenas de transações por segundo, pelo que as aplicações recorrem cada vez mais a Rollups para taxas inferiores e confirmações mais rápidas. Em suma, o Bitcoin aposta na resiliência e numa escalabilidade mais lenta; a Ethereum opta pela modularidade, delegando a escalabilidade às redes Layer 2.
As soluções Layer 2 agrupam várias transações off-chain antes de submeterem dados ou resumos à cadeia principal como estratégia de escalabilidade. Os Rollups são uma abordagem comum:
Layer 2 melhora significativamente a escalabilidade, mas introduz novos compromissos: os sequenciadores podem ser temporariamente centralizados e, se a disponibilidade de dados (garantia de que os dados das transações estão armazenados e acessíveis) não for assegurada na cadeia, a segurança pode ser afetada. Na prática, os utilizadores beneficiam de comissões mais baixas e maior rapidez, mas devem compreender os processos de bridging, períodos de contestação e níveis de descentralização operacional.
O sharding divide uma blockchain em múltiplos segmentos paralelos (“shards”), aumentando o throughput, mas complicando a comunicação entre shards e a segurança partilhada. A disponibilidade de dados refere-se à garantia de que os dados das transações estão guardados e acessíveis por qualquer participante; se os dados não estiverem disponíveis, torna-se impossível reconstruir o estado, mesmo com provas—comprometendo assim a segurança.
Em março de 2024, a Ethereum introduziu a EIP-4844 (segundo fontes públicas), acrescentando canais de dados “blob” que proporcionam espaço de dados mais económico para Rollups, reduzindo custos em Layer 2 e melhorando a escalabilidade. Este é um exemplo do trilema em ação: reforçar a escalabilidade através de melhorias na camada de dados, procurando não comprometer a segurança ou descentralização.
Ponto essencial: cada rede posiciona-se de forma diferente no trilema, influenciando comissões, velocidade e pressupostos de segurança. Ao escolher redes de depósito ou levantamento na Gate, os utilizadores devem alinhar as suas opções com as suas necessidades e tolerância ao risco.
Alcançar a otimização simultânea das três dimensões continua improvável, mas os limites estão a ser ultrapassados. Inovações como blockchains modulares, modelos de segurança partilhada, data availability sampling, sequenciadores descentralizados, restaking e incentivos económicos melhorados estão em desenvolvimento—transferindo mais funções para camadas especializadas, mantendo a mainchain como árbitro final da segurança. A tendência do setor é “reforçar a escalabilidade sem sacrificar a segurança ou descentralização essenciais”, embora cada nova abordagem introduza pressupostos e riscos próprios que exigem validação ao longo do tempo.
Em suma, o trilema não se resume a escolher “certo” ou “errado”, mas sim a selecionar a combinação mais adequada às suas necessidades atuais. Compreender como cada vértice condiciona os restantes permite-lhe tomar decisões mais sólidas quanto a escolhas de arquitetura técnica, seleção de redes e proteção de fundos.
O trilema da blockchain demonstra que é impossível alcançar, ao mesmo tempo, descentralização, segurança e elevado throughput em blockchains. O Bitcoin privilegia descentralização e segurança, sacrificando velocidade; a Ethereum procura um equilíbrio entre os três, mas permanece limitada pela sua arquitetura de cadeia única. Compreender isto permite valorizar os diferentes compromissos de design das blockchains.
Layer 2 refere-se a soluções de escalabilidade construídas sobre as mainchains (como Polygon ou Arbitrum), onde as transações são processadas off-chain para maior throughput, sendo apenas os dados essenciais publicados on-chain. Esta abordagem preserva a segurança e descentralização da mainchain, enquanto Layer 2 assegura alto desempenho—um compromisso prático. Optar por Layer 2 ao utilizar transferências cross-chain da Gate pode também reduzir custos.
O sharding divide uma blockchain em múltiplas cadeias paralelas (“shards”), cada uma validando transações e dados de forma independente, enquanto uma beacon chain faz a coordenação entre elas. Este modelo mantém a descentralização e segurança da rede, aumentando drasticamente o throughput através de processamento paralelo. O design da Ethereum 2.0 é um exemplo destacado desta abordagem.
O PoW (Proof of Work) privilegia a segurança, mas tem baixa eficiência; o PoS (Proof of Stake) procura manter a segurança aumentando a eficiência. O DPoS (Delegated Proof of Stake) reforça ainda mais o throughput, mas pode reduzir a descentralização. Cada mecanismo equilibra estes três objetivos de forma distinta; ao escolher uma rede blockchain, avalie o foco dos compromissos em função das suas necessidades.
Uma solução completa permanece, para já, teórica; contudo, as inovações em curso continuam a aliviar estas restrições. Tecnologias como soluções Layer 2, sharding, interoperabilidade cross-chain e novos mecanismos de consenso estão a melhorar os compromissos. O futuro deverá passar pela combinação de soluções—como L2 com sharding—para aproximar ao máximo os três fatores do ótimo. Manter-se informado sobre estes avanços permite compreender a evolução do setor.


