Ontem alguém fez uma pergunta bastante interessante: "Aqueles tokens de ouro em blockchain, em que é que são realmente diferentes de comprar Bitcoin? Afinal, são ambos números no ecrã, não é?"

Pensei um pouco e dei uma analogia: é como escolher entre ter um "vale de levantamento premium" ou possuir uma "chave mestra única e irrepetível".

Primeiro, vejamos o ouro tokenizado, como o PAXG e afins. Comprar isto equivale a realmente possuir um lingote de ouro físico — só que esse lingote não está no cofre da tua casa, mas sim guardado nas profundezas de um cofre subterrâneo altamente protegido em Londres ou na Suíça. Aqueles números que vês na app do teu telemóvel? No fundo, são um recibo eletrónico de levantamento.

Parece muito moderno e, de facto, é bastante prático. Não tens de te preocupar com assaltos em casa e podes vender a qualquer momento. Mas essa sensação de segurança, na sua essência, baseia-se em "confiança" — tens de confiar que o cofre não será confiscado, que o emissor não vai desaparecer, que aquela porta de ferro estará sempre aberta para ti. É uma segurança do tipo "protegido por outros", como viver num condomínio de luxo com segurança privada.

Bitcoin? É um mundo completamente diferente, até com um toque de irreverência.

Quando transferes as moedas para a tua própria cold wallet, no momento em que escreves à mão as 12 palavras da seed — já não há ninguém a guardar por ti. Essa riqueza transforma-se num "segredo" que só tu consegues desvendar. Não está num cofre, nem num banco — está escondida nas entrelinhas das regras matemáticas. Mesmo que atravesses fronteiras de mãos a abanar, sem nada contigo, desde que tenhas essa sequência memorizada, a tua riqueza segue-te intacta. Ninguém a pode congelar, ninguém a pode tomar à força.

Claro que, para isso, tens de a memorizar. Quem tem boa memória pode decorar, mas a maioria das pessoas prefere, prudentemente, escrever num papel.