A instituição financeira chinesa cotada em bolsa, Banco Huaxia, emitiu 4,5 mil milhões de yuans (600 milhões de dólares) em obrigações tokenizadas, com o objetivo de reduzir as fricções de liquidação através da eliminação de intermediários no processo de leilão. Estas obrigações governamentais on-chain foram emitidas pela Huaxia Financial Leasing Company, uma subsidiária do Banco Huaxia. As obrigações em yuans oferecem aos titulares uma taxa fixa de 1,84% durante três anos, estando as quotas de obrigações disponíveis apenas para titulares de yuan digital chinês.
Leilão exclusivo em yuan digital inaugura novo modelo de emissão de obrigações
Os 600 milhões de dólares em quotas de obrigações em yuans do Banco Huaxia adotaram um método de emissão sem precedentes: apenas titulares de yuan digital chinês podem participar no leilão. Este modelo restrito de emissão é extremamente raro nos mercados globais de obrigações, uma vez que as obrigações tradicionais são normalmente abertas a todos os investidores qualificados para maximizar a escala de subscrição e a competitividade dos preços. A opção do Banco Huaxia por restringir a emissão aos detentores de yuan digital indica que o principal objetivo desta emissão não é apenas angariar fundos, mas testar e promover a aplicação da Moeda Digital do Banco Central (CBDC) nas infraestruturas financeiras.
Quem são os detentores de yuan digital? Atualmente, o yuan digital chinês ainda se encontra em fase piloto, sendo promovido principalmente em grandes cidades como Shenzhen, Xangai e Pequim. Os titulares incluem consumidores individuais participantes no projeto-piloto, clientes empresariais e instituições com relações comerciais com os bancos envolvidos. Estes titulares tendem a ser recetivos a novas tecnologias financeiras e já completaram a certificação de identidade das suas carteiras digitais, o que reduz os custos de KYC (Conheça o Seu Cliente) para o Banco Huaxia.
O desenho do mecanismo de leilão também merece destaque. A emissão tradicional de obrigações requer bancos de investimento como subscritores, responsáveis pela definição de preços, distribuição e estabilização do mercado. Este processo envolve vários intermediários, cada um cobrando uma taxa. O Banco Huaxia utiliza a tecnologia blockchain para leiloar diretamente as obrigações aos investidores finais, contornando totalmente os intermediários. Os investidores podem participar diretamente no leilão através da carteira de yuan digital, e quem fizer a oferta mais alta recebe as quotas de obrigações, com todo o processo a ser transparente e instantâneo.
A poupança de custos deste modelo sem intermediários é significativa. As taxas de subscrição na emissão tradicional de obrigações situam-se normalmente entre 0,5% e 2% do valor emitido, o que, numa emissão de 600 milhões de dólares, representa uma poupança de 3 a 12 milhões de dólares. Estes custos podem ser parcialmente convertidos em custos de financiamento mais baixos (para o emissor) ou rendimentos mais elevados (para o investidor), melhorando assim a eficiência global do mercado.
Arquitetura tecnológica das obrigações tokenizadas e a revolução da liquidação
(Fonte: RWA XYZ)
As obrigações em yuans tokenizadas podem reduzir o número de intermediários necessários para a liquidação de transações, encurtar o tempo de liquidação e diminuir os custos de transação. Nos mercados tradicionais de obrigações, o processo desde a execução até à liquidação final costuma exigir T+2 (dois dias úteis após a transação), envolvendo várias câmaras de compensação, bancos depositários e sistemas de liquidação. Cada etapa acrescenta tempo, custos e riscos de falha.
As obrigações tokenizadas do Banco Huaxia utilizam contratos inteligentes para executar a liquidação de forma automática. Após o sucesso no leilão, o contrato inteligente deduz automaticamente o valor correspondente da carteira de yuan digital do investidor e transfere a obrigação tokenizada para a sua conta. Todo o processo é concluído em tempo real na blockchain, alcançando verdadeira liquidação T+0 (imediata). Este aumento de velocidade não só melhora a experiência do utilizador, como, mais importante ainda, reduz o risco de liquidação e a utilização de capital.
Em termos de arquitetura tecnológica, é provável que o Banco Huaxia utilize uma rede blockchain permissionada apoiada pelo governo chinês, como a BSN (Blockchain Service Network) ou uma tecnologia de base desenvolvida especificamente para o yuan digital. Embora estas redes sejam permissionadas (não públicas e sem permissão aberta), continuam a oferecer as principais vantagens da blockchain: registo imutável de transações, execução automatizada de contratos inteligentes e mecanismo de consenso multipartido.
Três grandes vantagens tecnológicas das obrigações tokenizadas
Custo zero de intermediação: elimina bancos de investimento e corretoras, poupando 0,5%-2% em taxas de subscrição
Liquidação imediata: reduz o prazo de T+2 para T+0, diminuindo o risco de liquidação e a utilização de capital
Rastreabilidade transparente: a blockchain regista todas as transações e alterações de titularidade, facilitando auditorias e supervisão
A taxa fixa de 1,84% a três anos também é significativa. Esta rentabilidade é inferior à das obrigações governamentais chinesas de prazo idêntico (normalmente entre 2% e 2,5%), o que mostra que o Banco Huaxia está disposto a suportar um custo para experimentar a tecnologia de tokenização. Os investidores aceitam um rendimento mais baixo provavelmente por interesse na nova tecnologia ou por considerarem que a liquidez e a facilidade de negociação das obrigações tokenizadas em mercado secundário podem compensar a diferença de rendibilidade.
Contradições e mudanças estratégicas na política de blockchain da China
Em 2025, a China mudou a sua posição relativamente às stablecoins e criptomoedas, optando por desenvolver Moeda Digital do Banco Central (CBDC) e tecnologia blockchain permissionada aprovada pelo Estado, à medida que os ativos digitais ganham importância geoestratégica. A postura do governo chinês em relação a stablecoins e criptomoedas tem oscilado, ora tentando proibir, ora relaxando a regulamentação e permitindo que empresas privadas operem no setor.
No início de agosto, a China reprimiu severamente corretoras e instituições financeiras locais que organizavam seminários sobre stablecoins no país, instruindo-as a cancelar todos os eventos agendados e a cessar a publicação de relatórios sobre o tema. Segundo a Bloomberg, os reguladores chineses receavam que as stablecoins pudessem ser veículos para fraudes no país. Menos de duas semanas depois, surgiram relatos de que o governo chinês ponderava legalizar stablecoins de yuan emitidas por privados, para reforçar a posição do yuan no mercado cambial.
Empresas tecnológicas chinesas como Alibaba, Ant Group e JD.com viram isto como um sinal verde para começar a desenvolver tokens indexados ao yuan, mas o aviso emitido por Pequim em outubro relativamente a stablecoins privadas suspendeu estes planos. Esta oscilação de políticas revela que continuam a existir divisões dentro dos reguladores chineses quanto à abordagem às criptomoedas. Uns defendem uma proibição total para proteger a estabilidade financeira e o controlo de capitais, enquanto outros acreditam que a tecnologia blockchain deve ser utilizada para aumentar a eficiência financeira, sob um quadro controlado.
A emissão das obrigações em yuans pelo Banco Huaxia representa um ponto de equilíbrio neste contexto contraditório: recurso à tecnologia blockchain e à tokenização, mas restrito ao sistema da moeda digital do banco central e com uma instituição financeira estatal como emissora. Este caminho de “inovação controlada” satisfaz a necessidade de modernização tecnológica e assegura ao mesmo tempo o controlo total do governo sobre o sistema.
Do ponto de vista geoestratégico, o impulso da China ao yuan digital e às obrigações tokenizadas tem como motivação profunda o desafio ao sistema financeiro internacional dominado pelo dólar. O atual mercado global de obrigações depende fortemente da liquidação e denominação em dólares, com o sistema SWIFT e redes de compensação dominadas pelos EUA, permitindo a este país exercer influência através de sanções financeiras. A China pretende, com o yuan digital e sistemas de liquidação baseados em blockchain, criar uma alternativa ao sistema do dólar.
Ambição transfronteiriça do Centro de Operações do Yuan Digital em Xangai
O Banco Popular da China criou em setembro um Centro de Operações do Yuan Digital, localizado em Xangai, que ficará responsável pela liquidação transfronteiriça e pelo desenvolvimento de outros projetos relacionados com blockchain. Esta iniciativa marca a transição do yuan digital da fase piloto doméstica para a expansão internacional. A escolha de Xangai como centro é altamente simbólica, pois representa o centro financeiro da China e a principal base para a internacionalização do yuan.
A liquidação transfronteiriça é a missão central do Centro de Operações do Yuan Digital. Atualmente, o comércio entre a China e os países da Nova Rota da Seda tem uma escala enorme, mas a maioria das transações ainda é liquidada em dólares. Isto não só aumenta os custos de câmbio e os riscos cambiais, como expõe as atividades comerciais chinesas ao risco de sanções financeiras dos EUA. O yuan digital oferece uma alternativa: empresas chinesas podem liquidar diretamente com parceiros comerciais usando yuan digital, contornando totalmente o dólar e o sistema SWIFT.
A emissão das obrigações em yuans pelo Banco Huaxia pode ser vista como um ensaio para esta estratégia transfronteiriça. Embora esta emissão seja atualmente dirigida apenas a titulares domésticos de yuan digital, a infraestrutura técnica e os procedimentos operacionais estabelecidos podem ser facilmente alargados a cenários internacionais. No futuro, a China poderá emitir obrigações tokenizadas denominadas em yuan digital para investidores dos países da Nova Rota da Seda, que poderão adquiri-las em yuan digital e liquidá-las imediatamente em blockchain. Isto abrirá um novo caminho para a internacionalização do yuan.
O desenvolvimento de outros projetos relacionados com blockchain mostra que a ambição chinesa nesta área vai além das obrigações. Possíveis direções incluem: ações tokenizadas, securitização imobiliária, financiamento de cadeias de abastecimento, e redes de pagamentos transfronteiriços baseadas em blockchain. O Centro de Operações de Xangai será o incubador e coordenador destes projetos inovadores, permitindo à China conquistar uma posição de liderança na competição global pelas finanças blockchain.
Em termos de filosofia regulatória, a abordagem da China contrasta fortemente com a dos EUA. Os Estados Unidos estão gradualmente a abrir o mercado das criptomoedas, permitindo que entidades privadas operem bolsas e emitam stablecoins, embora sob um quadro regulatório rigoroso. A China, pelo contrário, escolheu um modelo “liderado pelo Estado”: proíbe stablecoins privadas e bolsas descentralizadas, mas promove fortemente a moeda digital do banco central e a aplicação de blockchain por instituições estatais. Qual dos modelos será mais bem-sucedido só o tempo dirá.
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Banco Huaxia emite 600 milhões de RMB em obrigações! Primeira emissão de obrigações tokenizadas em yuan digital
A instituição financeira chinesa cotada em bolsa, Banco Huaxia, emitiu 4,5 mil milhões de yuans (600 milhões de dólares) em obrigações tokenizadas, com o objetivo de reduzir as fricções de liquidação através da eliminação de intermediários no processo de leilão. Estas obrigações governamentais on-chain foram emitidas pela Huaxia Financial Leasing Company, uma subsidiária do Banco Huaxia. As obrigações em yuans oferecem aos titulares uma taxa fixa de 1,84% durante três anos, estando as quotas de obrigações disponíveis apenas para titulares de yuan digital chinês.
Leilão exclusivo em yuan digital inaugura novo modelo de emissão de obrigações
Os 600 milhões de dólares em quotas de obrigações em yuans do Banco Huaxia adotaram um método de emissão sem precedentes: apenas titulares de yuan digital chinês podem participar no leilão. Este modelo restrito de emissão é extremamente raro nos mercados globais de obrigações, uma vez que as obrigações tradicionais são normalmente abertas a todos os investidores qualificados para maximizar a escala de subscrição e a competitividade dos preços. A opção do Banco Huaxia por restringir a emissão aos detentores de yuan digital indica que o principal objetivo desta emissão não é apenas angariar fundos, mas testar e promover a aplicação da Moeda Digital do Banco Central (CBDC) nas infraestruturas financeiras.
Quem são os detentores de yuan digital? Atualmente, o yuan digital chinês ainda se encontra em fase piloto, sendo promovido principalmente em grandes cidades como Shenzhen, Xangai e Pequim. Os titulares incluem consumidores individuais participantes no projeto-piloto, clientes empresariais e instituições com relações comerciais com os bancos envolvidos. Estes titulares tendem a ser recetivos a novas tecnologias financeiras e já completaram a certificação de identidade das suas carteiras digitais, o que reduz os custos de KYC (Conheça o Seu Cliente) para o Banco Huaxia.
O desenho do mecanismo de leilão também merece destaque. A emissão tradicional de obrigações requer bancos de investimento como subscritores, responsáveis pela definição de preços, distribuição e estabilização do mercado. Este processo envolve vários intermediários, cada um cobrando uma taxa. O Banco Huaxia utiliza a tecnologia blockchain para leiloar diretamente as obrigações aos investidores finais, contornando totalmente os intermediários. Os investidores podem participar diretamente no leilão através da carteira de yuan digital, e quem fizer a oferta mais alta recebe as quotas de obrigações, com todo o processo a ser transparente e instantâneo.
A poupança de custos deste modelo sem intermediários é significativa. As taxas de subscrição na emissão tradicional de obrigações situam-se normalmente entre 0,5% e 2% do valor emitido, o que, numa emissão de 600 milhões de dólares, representa uma poupança de 3 a 12 milhões de dólares. Estes custos podem ser parcialmente convertidos em custos de financiamento mais baixos (para o emissor) ou rendimentos mais elevados (para o investidor), melhorando assim a eficiência global do mercado.
Arquitetura tecnológica das obrigações tokenizadas e a revolução da liquidação
(Fonte: RWA XYZ)
As obrigações em yuans tokenizadas podem reduzir o número de intermediários necessários para a liquidação de transações, encurtar o tempo de liquidação e diminuir os custos de transação. Nos mercados tradicionais de obrigações, o processo desde a execução até à liquidação final costuma exigir T+2 (dois dias úteis após a transação), envolvendo várias câmaras de compensação, bancos depositários e sistemas de liquidação. Cada etapa acrescenta tempo, custos e riscos de falha.
As obrigações tokenizadas do Banco Huaxia utilizam contratos inteligentes para executar a liquidação de forma automática. Após o sucesso no leilão, o contrato inteligente deduz automaticamente o valor correspondente da carteira de yuan digital do investidor e transfere a obrigação tokenizada para a sua conta. Todo o processo é concluído em tempo real na blockchain, alcançando verdadeira liquidação T+0 (imediata). Este aumento de velocidade não só melhora a experiência do utilizador, como, mais importante ainda, reduz o risco de liquidação e a utilização de capital.
Em termos de arquitetura tecnológica, é provável que o Banco Huaxia utilize uma rede blockchain permissionada apoiada pelo governo chinês, como a BSN (Blockchain Service Network) ou uma tecnologia de base desenvolvida especificamente para o yuan digital. Embora estas redes sejam permissionadas (não públicas e sem permissão aberta), continuam a oferecer as principais vantagens da blockchain: registo imutável de transações, execução automatizada de contratos inteligentes e mecanismo de consenso multipartido.
Três grandes vantagens tecnológicas das obrigações tokenizadas
Custo zero de intermediação: elimina bancos de investimento e corretoras, poupando 0,5%-2% em taxas de subscrição
Liquidação imediata: reduz o prazo de T+2 para T+0, diminuindo o risco de liquidação e a utilização de capital
Rastreabilidade transparente: a blockchain regista todas as transações e alterações de titularidade, facilitando auditorias e supervisão
A taxa fixa de 1,84% a três anos também é significativa. Esta rentabilidade é inferior à das obrigações governamentais chinesas de prazo idêntico (normalmente entre 2% e 2,5%), o que mostra que o Banco Huaxia está disposto a suportar um custo para experimentar a tecnologia de tokenização. Os investidores aceitam um rendimento mais baixo provavelmente por interesse na nova tecnologia ou por considerarem que a liquidez e a facilidade de negociação das obrigações tokenizadas em mercado secundário podem compensar a diferença de rendibilidade.
Contradições e mudanças estratégicas na política de blockchain da China
Em 2025, a China mudou a sua posição relativamente às stablecoins e criptomoedas, optando por desenvolver Moeda Digital do Banco Central (CBDC) e tecnologia blockchain permissionada aprovada pelo Estado, à medida que os ativos digitais ganham importância geoestratégica. A postura do governo chinês em relação a stablecoins e criptomoedas tem oscilado, ora tentando proibir, ora relaxando a regulamentação e permitindo que empresas privadas operem no setor.
No início de agosto, a China reprimiu severamente corretoras e instituições financeiras locais que organizavam seminários sobre stablecoins no país, instruindo-as a cancelar todos os eventos agendados e a cessar a publicação de relatórios sobre o tema. Segundo a Bloomberg, os reguladores chineses receavam que as stablecoins pudessem ser veículos para fraudes no país. Menos de duas semanas depois, surgiram relatos de que o governo chinês ponderava legalizar stablecoins de yuan emitidas por privados, para reforçar a posição do yuan no mercado cambial.
Empresas tecnológicas chinesas como Alibaba, Ant Group e JD.com viram isto como um sinal verde para começar a desenvolver tokens indexados ao yuan, mas o aviso emitido por Pequim em outubro relativamente a stablecoins privadas suspendeu estes planos. Esta oscilação de políticas revela que continuam a existir divisões dentro dos reguladores chineses quanto à abordagem às criptomoedas. Uns defendem uma proibição total para proteger a estabilidade financeira e o controlo de capitais, enquanto outros acreditam que a tecnologia blockchain deve ser utilizada para aumentar a eficiência financeira, sob um quadro controlado.
A emissão das obrigações em yuans pelo Banco Huaxia representa um ponto de equilíbrio neste contexto contraditório: recurso à tecnologia blockchain e à tokenização, mas restrito ao sistema da moeda digital do banco central e com uma instituição financeira estatal como emissora. Este caminho de “inovação controlada” satisfaz a necessidade de modernização tecnológica e assegura ao mesmo tempo o controlo total do governo sobre o sistema.
Do ponto de vista geoestratégico, o impulso da China ao yuan digital e às obrigações tokenizadas tem como motivação profunda o desafio ao sistema financeiro internacional dominado pelo dólar. O atual mercado global de obrigações depende fortemente da liquidação e denominação em dólares, com o sistema SWIFT e redes de compensação dominadas pelos EUA, permitindo a este país exercer influência através de sanções financeiras. A China pretende, com o yuan digital e sistemas de liquidação baseados em blockchain, criar uma alternativa ao sistema do dólar.
Ambição transfronteiriça do Centro de Operações do Yuan Digital em Xangai
O Banco Popular da China criou em setembro um Centro de Operações do Yuan Digital, localizado em Xangai, que ficará responsável pela liquidação transfronteiriça e pelo desenvolvimento de outros projetos relacionados com blockchain. Esta iniciativa marca a transição do yuan digital da fase piloto doméstica para a expansão internacional. A escolha de Xangai como centro é altamente simbólica, pois representa o centro financeiro da China e a principal base para a internacionalização do yuan.
A liquidação transfronteiriça é a missão central do Centro de Operações do Yuan Digital. Atualmente, o comércio entre a China e os países da Nova Rota da Seda tem uma escala enorme, mas a maioria das transações ainda é liquidada em dólares. Isto não só aumenta os custos de câmbio e os riscos cambiais, como expõe as atividades comerciais chinesas ao risco de sanções financeiras dos EUA. O yuan digital oferece uma alternativa: empresas chinesas podem liquidar diretamente com parceiros comerciais usando yuan digital, contornando totalmente o dólar e o sistema SWIFT.
A emissão das obrigações em yuans pelo Banco Huaxia pode ser vista como um ensaio para esta estratégia transfronteiriça. Embora esta emissão seja atualmente dirigida apenas a titulares domésticos de yuan digital, a infraestrutura técnica e os procedimentos operacionais estabelecidos podem ser facilmente alargados a cenários internacionais. No futuro, a China poderá emitir obrigações tokenizadas denominadas em yuan digital para investidores dos países da Nova Rota da Seda, que poderão adquiri-las em yuan digital e liquidá-las imediatamente em blockchain. Isto abrirá um novo caminho para a internacionalização do yuan.
O desenvolvimento de outros projetos relacionados com blockchain mostra que a ambição chinesa nesta área vai além das obrigações. Possíveis direções incluem: ações tokenizadas, securitização imobiliária, financiamento de cadeias de abastecimento, e redes de pagamentos transfronteiriços baseadas em blockchain. O Centro de Operações de Xangai será o incubador e coordenador destes projetos inovadores, permitindo à China conquistar uma posição de liderança na competição global pelas finanças blockchain.
Em termos de filosofia regulatória, a abordagem da China contrasta fortemente com a dos EUA. Os Estados Unidos estão gradualmente a abrir o mercado das criptomoedas, permitindo que entidades privadas operem bolsas e emitam stablecoins, embora sob um quadro regulatório rigoroso. A China, pelo contrário, escolheu um modelo “liderado pelo Estado”: proíbe stablecoins privadas e bolsas descentralizadas, mas promove fortemente a moeda digital do banco central e a aplicação de blockchain por instituições estatais. Qual dos modelos será mais bem-sucedido só o tempo dirá.